quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quando eu toquei o amor pela primeira vez...






Era difícil dormir! Havia ganhado muitos centímetros de circunferência abdominal. Sentia que rolava, literalmente, de um lado a outro da cama. Sentia muito calor. Levantava o tempo todo para ir ao banheiro. Logo que fechava a porta do quarto, apresentava uma necessidade latente de voltar pra lá. Respirava com dificuldade ao subir as escadas. Lucas se esticava com vigor. Seus pés empurravam as minhas costelas. Desconfortável demais, dirão alguns. Não. Era o amor que estava ali. Era o amor que se manifestava fisicamente. Apesar das noites insones, dos choros, da ansiedade, dos medos, era o Lucas. A noite anterior ao parto agendado foi cruel. Deitada na cama, afagava o meu ventre com delicadeza. As horas se arrastavam e eu adentrava a madrugada pensando no seu rostinho, meu filho, meu primogênito. Estava assustada. Seria uma boa mãe para ele? Talvez. Persistente como sou, era fato que eu tentaria ser a melhor mãe possível. O dia nasceu, finalmente. A luz do sol penetrou a janela. Naquele instante, eu sussurrei ao universo um carinhoso "Bom Dia!". Agradeci a Deus pela chegada daquele momento. Meu filho habitara o meu ventre o tempo necessário para se desenvolver plenamente. Ele que, se uniu a meu corpo durante este período, deixaria o meu útero naquela noite. Porém, já marcara a minha alma para toda a eternidade com um amor incondicional que eu nunca iria parir. Fomos ao hospital. Uma confusão de vozes na recepção: meu marido, meu pai, minha mãe, minha irmã, meu irmão, minha avó. Conferimos o tramite da internação. Uma enfermeira me levou até uma sala pequena. Pediu que eu retirasse meus brincos, anéis e roupas. Colocou um avental em minhas mãos e disse: "Precisa de ajuda?" Respondi: "Não, obrigada". Ela deixou a sala e falou que retornaria em pouco tempo. Troquei-me. Estava feliz! Minhas bochechas doíam. Não conseguia parar de sorrir. Mas, então, o relógio na parede me usurpou este sentimento em segundos. Eram 20:12. Meu filho estaria em meus braços em mais alguns minutos e eu não sabia nada sobre como cuidar de um bebê. Não sei porque este pensamento explodiu em mim com tanta força naquele instante. Estremeci. Minhas mãos estavam geladas. Meu coração pulsava em sobressalto. Era jovem e inexperiente. Será que eu iria conseguir? A resposta ensaiava um florescer em minha alma. Decidi que ofertaria a ele tudo o que tinha de mais lindo dentro de mim. Iria amá-lo com todo o meu coração. Acariciei mais uma vez o ventre que nos uniu durante toda a gestação. "Meu filho, prometo que eu vou tentar ser a melhor mãe deste universo. Vamos descobrir juntos este mundo novo." Tudo o que aconteceu depois disso, relembrando agora, foi um flash. E, de repente, às 20:40 Lucas nasceu. Quando toquei o amor pela primeira vez a minha vida ganhou um novo sentido. O amor berrava até chegar ao meu colo. Quando eu o abracei, ele se aninhou em meu peito e parou de chorar. A resposta à toda a duvida, anseio ou medo, pairava naquela sala. O amor era a chave de tudo. O Lucas precisava do meu amor e eu, que o amei desde que habitava o meu ser, derramaria sobre ele este sentimento. Eu, que nunca havia dado banho em uma criança, escutei com atenção as instruções das enfermeiras e dei muitos banhos naquele ser frágil. Eu, que nunca tinha cuidado de uma criança, amamentei o meu filho com garra. Ajudei-o a encontrar o meu seio e ofereci o alimento que brotava do meu corpo com carinho. Fomos aprendendo juntos muitas coisas. Nem sempre tudo dava certo. Mas, eu havia tocado o amor pela primeira vez em minha vida e eu tinha certeza que eu jamais o soltaria.

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