quarta-feira, 19 de novembro de 2014

                                          




  Doulas


Dividi minha experiência com o parto no post anterior. Tive um retornou interessante quanto as  expectativas e anseios em relação ao parto. Percebi que elas continuam latentes em mulheres que se preparam para se tornarem mães. No desejo de ampará-las, buscarei trazer à luz alguns caminhos que desconhecia durante minha gestação, pré e pós-parto. O primeiro tema a ser tratado é a humanização do parto através da figura das doulas.

Uma voz suave me alcançou. Tínhamos marcado um encontro às 14 hs. Estava preocupada com o tic-tac do relógio. Havia pedido para minha sogra ficar com meu filho. Não queria tomar toda a tarde dela. Sabia que estava atarefada naquela semana. Em poucos instantes, milhões de anseios povoavam a minha cabeça. A silhueta que despontava  além da porta se aproximava e já tomava forma. "Boa tarde!", uma voz doce tocou os meus ouvidos. "Sou Ana. Desculpe-me pela demora. Não temos hora para nada. Tudo depende das meninas e da sua necessidade em nos ter por perto." Através de suas primeiras palavras, Ana começou a me ensinar quem eram as doulas. A tradução do termo, "aquela que serve", ganhava forma em minha mente. Ela se sentou com calma. Olhou-me nos olhos durante todo o tempo que discorríamos sobre sua função durante a gestação e parto. Confesso que fui me envolvendo com toda a doçura que emanava do seu ser. O relógio não merecia minha atenção. Mergulhei naquele mundo novo e deixei que Ana me guiasse. Ela, generosamente, ensinou-me que para ser doula eram necessários um curso de capacitação com 40 horas e um verdadeiro amor ao próximo. "A mulher que escolhe ser doula abraça a profissão". São senhoras que oferecem acalento as parturientes e detêm intimidade com o trabalho de parto e suas nuances. Elas entendem o parto como um momento de exaustão física e emocional e, por isso, oferecem às mulheres prestes a dar a luz medidas de conforto físico que favoreçam o nascimento e noções básicas de aspectos fisiológicos do parto. Nesta transição importante na vida da mulher, Ana pontuou que "as doulas envolvem-nas de segurança, mostrando que elas são fortes e podem trazer seu filho a vida de maneira segura e consciente". Emociono-me, enquanto escrevo. Eu já havia tido o meu primeiro filho e aquele encontro com Ana reforçou meus pensamentos quanto a minha experiência. EU NÃO VIVI O MEU PARTO. Registrado como um fato importante para mais de 128 sociedades antigas, este acontecimento, desde os primórdios, era organizado de modo que a mãe pudesse sentir o pulsar da vida enquanto desfrutava da ajuda emocional de outras mulheres mais experientes de sua comunidade. Meu filho nasceu e eu não senti fisicamente nada além de uma picada horrível nas costas- anestesia peridural. Meu corpo não sentiu o quê o meu coração transbordava. Não tive ao meu lado alguém que me ofertasse carinho e paciência. Meu marido, também marinheiro de primeira viagem, estava focado em registrar aquele momento inesquecível. Ana explicou-me, ainda, que as doulas não oferecem sua ajuda apenas nos partos caseiros. Elas, com autorização de um obstetra, podem estar presentes na sala de parto de hospitais. Uma opção diferenciada às mulheres que buscam um parto institucionalizado. Fruto de estudos desde 1980, o trabalho realizado com doulas, em diferentes países como: Guatemala, África do Sul, Estados Unidos da América, Finlândia e Canadá, evidenciou uma diminuição no tempo de parto, um aumento na interação entre mãe e bebê e uma melhora significativa no humor da mulher após dar a luz. Ana despediu-se com carinho. Espontaneamente, eu disse: "Que delícia este encontro!". Ela sorriu, pegou nas minhas mãos e falou: "Delícia de encontro para nós duas!". Olhei para o relógio pela primeira vez, desde que Ana havia entrado na sala. Eram 16 hs. Tinha que correr. Meu filho me esperava.


Para mais informações, visite o site Doulas do Brasil

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