quinta-feira, 13 de novembro de 2014





Os livros e as crianças




Ele ficou na ponta dos pés. Equilibrou-se com fé. Queria alcançar seu objetivo. Hesitou. Não percebeu que eu observava tudo. Abaixou sua cabeça. Reservou-se em um mundo só seu. Deixei-o livre para fazer a sua escolha. Havia tantos outros bons candidatos, mas ele não se importou. Tinha escolhido assim que entrará no ambiente. Com os olhos fixos em sua meta, esticou-se novamente. A vontade era tanta que ele conseguiu crescer 1 centímetro. Com a ponta dos dedinhos, tocou-o. Os seus olhos doces brilharam. O livro resolveu pular em seu colo. Eles se abraçaram com força. Procurou-me com toda a satisfação de quem havia encontrado o seu mais novo melhor amigo. Percebeu que o menino ao lado mirava o seu preferido com desejo. Envolveu o livro com seus braços e tronco. Afundou-o dentro de si. Devolveu um olhar sinistro ao seu concorrente. Olhar efetivo que fez com que o outro pequenino voltasse a mirar a linda e colorida estante. Sorriu para mim e disse: "Mamãe, podemos levar este?". Caminhamos lado a lado até o leitor de código de barras: eu, ele e o livro. Notei que ele estava ansioso. Quase tropeçou no caminho. Abria e folheava o seu amigo. Cheirava-o e abraçava-o. Fiquei comovida com a verdade daquele encontro. Havíamos chegado no ponto final da jornada. Pedi o livro com carinho. Ele não queria soltá-lo. Temia que esta fosse uma despedida. Confiou o seu tesouro à mim, com dificuldade. Haviam se apegado desde o momento em que se tocaram. Apesar de ser pequenino demais para entender o que o leitor denunciava, contorcia-se todo para saber, em primeira mão, o resultado. Segurou-me com força. "Podemos levar este, por favor? por favorrrrrrrrrrr Porrrrrrrrr favorrrrrrrrrrrr. Só um pouquinho". Ele leu o sorriso que nascia em meus olhos. Abraçou os meus joelhos como se abraçasse o mundo todo. Quase me derrubou. Transformou-se em um canguru, daquele segundo em diante. Saltou bem alto até a fila do caixa. Colocou o livro no balcão e disse com orgulho: " Eu quero este". A menina que nos atendia sorriu para ele. Perguntou se era necessário embrulhar o livro para presente. Respondi prontamente que não. O meu canguru precisava descobrir rapidamente tudo aquilo que o seu novo amigo tinha para lhe contar. Caiu 6 vezes enquanto nos dirigíamos até o carro. Ele não conseguia tirar os olhos do livro. Contou-me sobre todos os desenhos. Falou sobre as árvores e sobre os bichos "bem glandessssssss". Chegamos em casa. Correu para o sofá. Pediu uma leitura naquela hora. Contei a estória para ele onze vezes. Crianças são tão puras que depositam o seu amor através dos olhos. Todas as vezes que abríamos a primeira página, ele me apertava com assombro. Um mundo novo estava diante dele e isto o excitava. Pegou no sono enquanto escutava a estória pela última vez. Adormeceu com tranquilidade. Deitei o seu novo companheiro ao seu lado. Beijei o meu pequenino e apaguei a luz. Antes de me deitar, visitei o seu quarto novamente. Ele sorria enquanto sonhava. Eu sorria com alma de volta. Será que estava dentro da estória? Será que estava esticando o ponto final? 

Queria que todas as crianças do nosso país pudessem ter momentos assim. Infelizmente, segundo estatísticas divulgadas pelo último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o Brasil tem um longo caminho a trilhar quando o assunto é leitura. Tendo somado 410 pontos em 2012, teve um decréscimo de 2 pontos em relação a 2009. Mantemo-nos abaixo da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e amargamos o 55° lugar entre os países participantes. Apesar da tristeza latente ao ler estes dados, acredito que estamos despertando. De acordo com um estudo realizado pela Fundação de Pesquisas Econômicas em 2013, que consultou 72% das editoras do país, a venda de livros no Brasil cresceu 4%. Estes números são animadores ao refletimos que a leitura não faz parte de nossa cultura. Além disso, temos que nós lembrar que o valor médio do livro cresceu 1,7%, entre 2012 e 2013, e é um item salgado demais para muitas famílias. Apesar da dificuldade de acesso aos livros por parte dos menos favorecidos economicamente, a biblioteca pública ainda é uma opção. Visitei várias e passei longas e deliciosas horas dentro delas. Nunca pude comprar um livro sequer durante a minha infância. Caminhava sozinha até a biblioteca de minha cidade. Escolhia o meu volume numa grande estante e devolvia-o depois de ter viajado com ele durante uma divertida semana. Ainda visito com os meus filhos a de nossa nova cidade. E chegamos a outra pesquisa interessante. Segundo o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), 98% dos municípios e distritos brasileiros contam com pelo menos 1 biblioteca pública. Através do Projeto Mais Bibliotecas Públicas as portas do conhecimento começam a chegar nos recantos mais distantes. Os esforços são grandes e os resultados são gestados no longo prazo. Porém, a jornada vale a pena. 

Dicas do dia: 

-Doe os seus velhos volumes. Há alguém precisando se encontrar com eles; 
-Visite a biblioteca pública de sua cidade com seus filhos. Eles ficaram encantados.



Fontes:






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