quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Eu, mulher


Quando um olhar de desejo me encontra numa esquina às 10 horas da manhã, fico sem graça. E, quando, mais a frente, um sorriso malicioso me tem como alvo fico incomodada. Ainda, terei que cruzar a rua e desfilar sobre a faixa de pedestres. Olhos famintos me observarão dentro de carros com vidros escuros. Beijos, piscadas e palavras gritadas. Eu deveria me sentir lisonjeada, ponderam alguns. Mas não consigo parar de pensar na imagem do cachorro que tem os olhos fixos no frango insinuante da padaria. Afinal, a culpa é do frango. Ele hipnotiza o cachorro e não lhe dá a chance de piscar. Décadas se passam e as mulheres continuam a serem desejadas como um pedaço de carne exposta. Enquanto o machismo se nutre através da herança social, a violência contra a mulher cresce exponencialmente. De acordo com o anuário produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2012, o numero de estupros registrados no pais foi maior do que o numero de homicídios dolosos (quando há intenção de matar). Foram registrados 50.617 casos. Este número equivale a 26,1 estupros por grupo de 100 mil habitantes. A cada hora 6 mulheres são violentadas sexualmente no Brasil. Estima-se que a cada ano, pelo menos 527 mil pessoas são estupradas em nosso pais, segundo estudo divulgado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Desses casos, apenas 10% chegam ao conhecimento da polícia. São mulheres, em geral com baixa escolaridade, sendo que crianças e adolescentes representam mais de 70% desta parcela. Mais da metade destas meninas são menores de 13 anos. Elas desfilam sua ingenuidade sem saber que carregam um estigma: são  mulheres. Um pedaço de carne mal passada. Elas precisam de nós. Nós, mulheres, precisamos de vocês homens. Precisamos de seres humanos que nos vejam como seres "similares" merecedores de respeito e proteção.

As mulheres são muito mais do que elas mostram, ou escondem, sobre fendas e decotes. Mulheres vão além das curvas evidenciadas, ou não, por suas roupas.
Hoje, eu, mulher, encerro a minha campanha pelo fim da violência contra a mulher. Mudarei de ares, de temas, mas deixo algumas informações compiladas a partir dos textos redigidos no blog sobre o tema. 

1. Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), 7 em cada 10 mulheres no mundo já foram ou serão violentadas em algum momento da vida;

2. a violência contra as mulheres é uma das violações de direitos humanos mais presentes no mundo;


3. de acordo com um ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, nosso país caiu 10 posições em relação a igualdade de gênero. O Brasil, que figurava em 62° na pesquisa divulgada no ano de 2013, amarga, no ano de 2014, o 71°;


4. estudo realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) evidenciou que mais de 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo;

5. em pesquisa divulgada no ano de 2013, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) destaca que durante os anos de 2001 à 2011 houve  50,000 mil casos de feminicídios no Brasil;

6. a cada hora 6 mulheres são violentadas sexualmente no pais, sendo que 70% das vitimas são crianças ou adolescentes.

Vivemos uma situação emergencial. 
Precisamos discutir sobre estes dados. 
Precisamos refletir sobre os caminhos que nossa sociedade está tomando.
A escalada da violência contra a mulher é real.
Essa realidade colide com os valores que ensino aos meus filhos todos os dias.
Apesar dos impactos, seguimos com coragem e vontade de mudar o mundo através de uma nova herança social. Herança que se baseia no fato da mulher ter todo o direito de ser uma "simples mulher" e não "simplesmente uma mulher".




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