terça-feira, 2 de dezembro de 2014







A violência contra a mulher e o feminicídio íntimo



Ainda sinto um gosto amargo sempre que me lembro daqueles dias. Havia, em mim, um amor que transbordava na procura de um outro amor que não estava lá. Momentos em que o mirava com o meu mais doce sorriso e recebia em troca toda a indiferença despejada pelos seus olhos. Ele já não notava quando eu trocava a cor do batom, a cor do esmalte, a cor da roupa. Sentia-me como um vulto em sua vida e, apesar de tudo, ansiava por qualquer sentimento que ele pudesse direcionar a mim. Sentava na porta de casa. Olhava-o com desejo. Queria aquele homem de qualquer maneira, mesmo sabendo que ele não fazia por merecer aquele amor que eu sentia. Quando cismava comigo, gritava palavras afiadas. Deferia-as com requintes de crueldade. Agarrava os meus cabelos com força, quando bebia. Atirava-me ao chão. Cuspia em mim, no meu amor, na minha fé de que um dia ele iria me amar. Talvez, só estivesse me amando do  jeito que ele sabia. As vezes, ficava feliz em ver que ele ainda se exaltava. Alegrava-me o fato dele sentir "seja lá o que for" por mim. Eu poderia ter ido embora mas não fui. Ele exercia uma força estranha sobre mim. Agora, chegamos até aqui. Uma jornada sem volta. Caminhei para este momento sem sentir. Só agora  vejo como a violência desse amor crescia. Ele  me olha com ódio. Ele está apertando meus braços com força. Ele está me arrastando até o nosso quarto e, finalmente, deitou-me na cama. Olho-o com todo o meu amor, enquanto ele desliza suas mãos sobre meu pescoço. Começo a perder os sentidos. Já não consigo mais abraçá-lo. Encerro meus olhos com a sua imagem. A despeito de toda a minha vontade em continuar a nossa narrativa, ele impõe o ponto final.


O Feminicídio íntimo é um crime cometido por marido, namorado ou ex-parceiro. De acordo com estudo realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em parceria com a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres mais de 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. Quando analisados os dados referentes a assassinatos de homens cometidos por parceira íntima este numero cai para 5%. Com base em relatos policiais e dados médicos coletados pela OMS, os casos de feminicídio íntimo tem crescido nos últimos anos, principalmente entre mulheres grávidas. Em pesquisa divulgada no ano de 2013, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) destaca que durante os anos de 2001 à 2011 houve  50,000 mil casos de feminicídios no Brasil. Deste total, 40% tem como autores parceiros íntimos da vítima. O estado de São Paulo encabeça o ranking com maior numero de vitimas durante o período pesquisado: são 2.377 casos. Seguido pela Bahia com 1.945 ocorrências. E, por Minas Gerais com 1.939. 


Fontes:








2 comentários:

  1. Essas coisas me assustam muito...
    Não posso deixar de frisar que a violência psicológica também é muito comum e, na minha opinião, terrível...
    Parabéns pelo texto

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  2. Obrigada, pelo carinho. Devemos discutir esta realidade sempre.

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